Mario Paulo – Um grande líder.

Siro Darlan  – desembargador do Tribunal de justiça do Rio de Janeiro e membro da Associaçao Juízes para a Democracia.

            Interrompo esse retiro forçado para meu crecimento espiritual e prestar uma homenagem sincera e merecida para um grande líder da magistratura nacional, que acaba de nos deixar. O desembargador Mário dos Santos Paulo, que morreu no dia 20 de maio, por motivo desconhecido, mas já que era um homem saudável e ainda novo, 76 anos, provavelmente foi mais uma vítima dessa peste que nos assola.

            Somente os mais antigos sabem e reconhecem a importância desse magistrado para a magistratura nacional. Mario Paulo, talvez tenha sido o maior lider associativo, juntamente com o desembargador Renato Maneschi, que já tivemos. Faz mais de 32 anos e ele se destacava na luta para a garantia das prerrogativas dos servidores do judiciário na constituinte de 1988. Era incansável e por sua inquestionável liderança e conhecimento, foi fundamental para nossas conquistas na Carta de 1988.

            Mario Paulo conhecia todas as lideranças nacionais e era íntimo de quase todos eles. Falava quase diariamente com líderes politicos como Jose Sarnei, Antonio Carlos Magalhães, Jose Dirceu ou qualquer outra liderança de todas as matizes políticas. Era tamanha sua influência com o Relator da Constituição, o Senador Bernardo Cabral, que o apelidamos de “Senador”. Também foi grande a sua influência na unificação das duas Associações, após a fusão dos dois estados. O Estado do Rio de Janeiro mantinha sua Associação Fluminense de Magistrados e na Capital, antigo Estado da Guanabara havia a Associação dos Magistrados da Guanabara. Mario Paulo foi um dos que lideraram o movimento de reunião e fortalecimento do que hoje é a Associaçao dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro.

            Pensavamos, filosoficamente e doutrinariamente, diametralmente opostos. Ele era conservador e punitivista. Tanto que quando foi candidato à presidência da AMAERJ não teve o apoio dos humanistas, muitas vezes confundidos como “comunistas” e não venceu as eleições. Mas isso em nada empana seu brilhantismo como lider e reformista. Mario Paulo era um otimista e tinha um ar irônico de sempre estar gozando de seu interlocutor, mas era um camarada amigo e aglutinador. Nossas diferenças políticas e filosóficas jamais foram mais fortes a ponto de nos afastar e nos respeitar mutuamente.

            Ele era de um concurso mais jovem que o meu e os mais jovens não conheceram a importância desse colega para que hoje tenhamos uma magistratura forte e atuante. Mario Paulo merece muitas páginas na história da magistratura fluminense e nacional. Que o desembargador Isaias encontre no Museu da Justiça um grande espaço para homenagear esse colega que nos deixou precocemente, mas nos dedicou uma preciosa herança. Quantas vezes deixou o convívio de sua amada Fernanda e seus filhos Luciana e Paulo para servir a nossa causa?  Recebeu em vida muitas e merecidas homenagens. Lamento que o momento em que estamos vivendo não me permita estar presente em sua despedida e nem sequer em sua missa, que certamente será encomendada.

            Mas, mesmo recluso e em estado medidativo para crescer e aprender a conhecer cada vez mais e melhor o ser humano, não poderia deixar esse isolamento sem prestar as devidas homenagens a esse ser humano tão especial que viveu para servir ao próximo e à causa da justiça: Desembargador Mario dos Santos Paulo, a quem me curvo reverencialmente.