Pai só tem um.
Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça e membro da Associação Juízes para a democracia.
Está em cartaz mais um filme de Anna Muylaert abordando a temática do amor familiar. A importância de se ter uma referência de pai e de mãe para o desenvolvimento sadio de uma pessoa. O filme, assim como o anterior, “Que horas ela chega?” retrata a importância das relações familiares. Aproxima-se o Dia dos pais, uma data de caráter essencialmente comercial, mas que também serve para se refletir sobre a centralidade da figura paterna como o objeto primacial das referências para os filhos. A primeira imagem é a de proteção. O pai é capaz de dirimir todos os medos e barreiras éticas, sociais para proteger e promover os seus filhos.
Muitas vezes vemos pais enfrentarem críticas por se colocarem na defesa intransigente de seus filhos. Critica-se muito a ocorrência do nepotismo praticado nos serviços públicos, mas essa prática existe em todas as camadas sociais e em todos os campos profissionais. Na política, aqui como alhures, pratica-se o nepotismo. Na maior Nação democrática do Planeta ao se enunciar os nomes de seus dirigentes, nomeia-se George Bush pai e filho, assim como na Coreia do Norte King Jong-um é filho e sucedeu o pai Kim Jong-il. Também no judiciário essa prática é corrente, embora estejamos numa Republica, ainda há famílias que se apoderam das coisas públicas e as dispõe como uma herança familiar.
O Dono do morro é um livro escrito pelo jornalista inglês Misha Glenny que narra a história de um criminoso que entrou na vida do tráfico de entorpecentes para salvar a vida de sua filha, portadora de uma doença grave e rara. O livro narra que em busca da cura da doença de sua filha Antonio Francisco Bonfim Lopes “subiu o morro como Antonio e desceu como Nem”. Após procurar recursos públicos, em hospitais e serviços diversos, pedir demissão do emprego onde trabalhava como funcionário da Net para com o dinheiro da indenização fazer frente as despesas com o tratamento da filha, não lhe restou outra alternativa senão bater na porta da solidariedade do Chefe do tráfico que o socorreu, mas pediu como recompensa a sua vida e lealdade.
Parecem situações diferentes ao colocar-se como parâmetro o preconceito entre os personagens, mas o princípio ético que nos faz enfrenta barreiras e conceitos sociais para defender nossos filhos é o mesmo. Tanto aquele que faz vista grossa aos princípios éticos que nos impede de tomar uma coisa pública como privada é condenável quanto entrar para o crime para salvar uma filha. Mas tudo pode mudar quando se coloca no lugar do outro. Aí vigora a lei do coração e da emoção e uma mãe ou pai feridos são capazes de tudo para salvar ou proteger um filho.