A compaixão como carro chefe.

Siro Darlan, desembargador e membro da Associação Juízes para a Democracia. Abril,2019-04-23

 

Nossos dias tem sido muito violentos. Alguns perguntam se já passamos na humanidade períodos tão violentos. Podemos pensar nas arenas romanas onde os cristãos eram sacrificados para delírio dos sádicos ou no genocídio armênico, na escravidão dos africanos, no holocausto dos judeus, no tratamento excludente aos refugiados, ou na expressão maior do sofrimento de um inocente na figura de Jesus. Mas nada disso tem superado o sofrimento impingido aos excluídos nos tempos modernos da pós-civilização.

O sistema penitenciário no Brasil, e em outros países, o silencioso holocausto da fome, além do tratamento dado aos povos que vivem na periferia e nas favelas, onde a força policial do estado tem invadido com violência sem limites e sem qualquer repercussão midiática dessa realidade cruel tem sido uma demonstração da morte do humanismo, sobretudo quando faz parte das politicas públicas assumidas por alguns governantes que se baseiam na violência como forma de combate-la.

Dostoyevski afirma que a “Compaixão é a lei maior da existência humana”. Sem ela não conseguimos olhar os homens e mulheres como nossos semelhantes. Christopher Kukk, PhD e professor de ciências políticas e sociais da Wester Connecticut State University e fundador e diretor do Center for Compassion, Creativity and Innovation afirma que há uma conexão entre a compaixão e o sucesso e que nossa vida melhora muito quando mostramos através de ações concretas nossa compaixão pelos outros.

Depois de um período de reflexão sobre a necessidade de recuperar as ações humanitárias, logo após a Segunda Guerra Mundial, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e com a criação da Organização das Nações Unidas, quando os homens e mulheres resolveram sentar ao redor da mesa para buscar a paz e o desenvolvimento dos povos, logo as diferenças ideológicas recriaram o ambiente de ódio e litígios ao redor do capital em detrimento dos valores humanos.

Sem qualquer vergonha povos mais desenvolvidos têm promovido boicotes a outros por discordarem de seus ideais políticos, nações independentes têm sido invadidos em sua soberania sob pretextos diversos das verdadeiras intenções de conquista de seu patrimônio, e novamente a roda da violência determina quem serão os excluídos e os poupados, geralmente os mais poderosos e seus asseclas.

Só nos resta retomar o caminho cantado pelos Anjos há mais de dois mil anos quando foi decretada a Paz na Terra aos homens de boa vontade, e seguir o caminho do doce Rabino que ditou que o maior de todos os mandamentos é “Amar ao próximo como a si mesmo”. Tantas vezes reverberado no caminho da humanidade por vozes com as de Gandhi, Martin Luther King, Santo Agostinho e tantos outros homens como nós que encarnaram em suas vidas a compaixão e o amor a todos os homens, sem exclusão de nenhum e por motivo qualquer.