
Embora rejeitado pelos seus, Cristo deu sua vida em favor dos pecadores. (Imagem: Shutterstock)
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A misericórdia e o perdão – por Siro Darlan
MAZOLA, 11 horas ago 6 min read
Por Siro Darlan –
A relação entre crime e pecado é uma temática complexa que envolve aspectos legais, morais e éticos.
O crime é uma violação das leis estabelecidas por um Estado, enquanto o pecado é geralmente entendido como uma transgressão contra normas morais ou religiosas. Os crimes são definidos por códigos legais e podem variar de uma sociedade para outra. Já os pecados estão frequentemente enraizados em doutrinas religiosas e em normas éticas que também podem variar conforme a cultura. As consequências de um crime geralmente envolvem punições legais, como prisão ou multas. Por outro lado, as consequências de um pecado podem incluir sentimento de culpa, ostracismo social ou punições espirituais, dependendo da crença religiosa. A motivação por trás de um crime pode ser tanto deliberada quanto acidental, enquanto o pecado é frequentemente associado a uma intenção moralmente errada, que envolve a consciência da transgressão.

A sociedade pode perceber crimes de maneira mais objetiva, baseando-se em leis. Pecados, por outro lado, são frequentemente julgados de forma subjetiva, dependendo das crenças pessoais e coletivas. Em muitos casos, um ato considerado criminoso também pode ser visto como um pecado, especialmente em sociedades onde as leis são influenciadas por normas religiosas. Por exemplo, o roubo é tanto um crime legal quanto um pecado em muitas tradições religiosas. Assim, embora crime e pecado possam ser entendidos através de lentes diferentes, a interseção entre eles é evidente, especialmente em contextos onde a moralidade e a legalidade se entrelaçam.
Cada uma dessas tradições religiosas valoriza a misericórdia e o perdão, mas de formas diferentes. No cristianismo, a misericórdia e o perdão são fundamentais. Jesus Cristo ensinou a amar os inimigos e perdoar sempre (Mateus 18:21-22). O perdão divino está disponível para todos os arrependidos e é concedido pela graça de Deus. A parábola do filho pródigo (Lucas 15:11-32) ilustra o amor e a misericórdia de Deus. No islamismo, Alá é frequentemente descrito como “O Misericordioso” e “O Perdoador” (Ar-Rahman e Ar-Rahim). O perdão pode ser obtido por meio do arrependimento sincero (tawbah) e da prática de boas ações. Os muçulmanos também são incentivados a perdoar os outros, pois Deus recompensa aqueles que são misericordiosos (Alcorão 3:134).

No judaísmo, a misericórdia de Deus é enfatizada, especialmente no conceito de “Teshuvá” (arrependimento). Durante o Yom Kipur (Dia do Perdão), os judeus pedem perdão a Deus e às pessoas que possam ter ofendido. O perdão humano é essencial, e o perdão divino é concedido àqueles que sinceramente se arrependem e fazem reparação.
As religiões africanas tradicionais, como o Candomblé e a Umbanda, valorizam a harmonia e o equilíbrio espiritual. O perdão muitas vezes está ligado à reparação de relações e à busca da paz entre os indivíduos. Os orixás, entidades espirituais, podem oferecer misericórdia e caminhos para restaurar a ordem espiritual e social. No budismo, o perdão está relacionado ao desapego do ódio e ao cultivo da compaixão. Não há um Deus que perdoa, mas o perdão é um ato de libertação do sofrimento. O ressentimento é visto como um fardo, e perdoar os outros ajuda a alcançar a paz interior. O karma influencia essa visão: boas ações, incluindo o perdão, geram resultados positivos.

O amor de Deus pelas criaturas é um tema central em muitas tradições religiosas e espirituais. Esse amor é frequentemente descrito como incondicional, abrangente e eterno, refletindo a natureza do próprio Deus.
Muitas tradições acreditam que Deus criou o mundo e todas as suas criaturas com amor. Essa criação é vista não apenas como um ato de poder, mas como uma expressão do desejo de Deus de ter um relacionamento com suas criaturas.

O amor de Deus é frequentemente associado ao cuidado e à providência. Isso implica que Deus não apenas criou as criaturas, mas também se preocupa com seu bem-estar e sua sobrevivência, guiando e sustentando-as ao longo do tempo. Em muitas crenças, o amor de Deus se manifesta através da busca pela redenção das criaturas. Isso pode ser visto em narrativas de perdão, misericórdia e a oferta de uma nova vida, como exemplificado em textos religiosos que falam sobre salvação e reconciliação.
O amor de Deus é muitas vezes descrito como um amor pessoal e íntimo. Muitos crentes sentem que Deus está presente em suas vidas, ouvindo suas orações e oferecendo conforto em momentos de dificuldade. Muitas tradições religiosas ensinam que o amor de Deus serve como um exemplo para os seres humanos. Os seguidores são encorajados a amar uns aos outros da mesma forma que Deus os ama, promovendo a compaixão, a empatia e a solidariedade. O amor de Deus é frequentemente visto como abrangente, estendendo-se a todas as criaturas, independentemente de suas falhas ou pecados.
Isso sugere uma visão de inclusão e aceitação, onde todas as pessoas são dignas do amor divino.

A relação com o amor de Deus também pode incluir desafios, onde as dificuldades e sofrimentos são vistos como oportunidades para crescer na fé e na compreensão do amor divino. Em resumo, o amor de Deus pelas criaturas é uma expressão profunda e multifacetada que inspira esperança, fé e transformação, encorajando as pessoas a se conectarem com o divino e entre si de maneira significativa.
Portanto, o maior de todos os mandamentos é Amar a Deus e ao próximo como a si mesmo. Logo só o amor constrói e a medida do amor é amar sem medidas.



SIRO DARLAN – Advogado e Jornalista; Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Ex-juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro; Especialista em Direito Penal Contemporâneo e Sistema Penitenciário pela ENFAM – Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados; Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos na ENSP; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo; Membro da Comissão da Verdade sobre a Escravidão da OAB-RJ; Membro da Comissão de Criminologia do IAB. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
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