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Bem-aventurados os que amam a Justiça – por Siro Darlan

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Bem-aventurados os que amam a Justiça – por Siro Darlan

 MAZOLA9 horas ago  0  4 min read

Por Siro Darlan –

“Bem-aventurados os que agora choram, pois haverão de rir. Bem-aventurados serão vocês quando os odiarem, os excluírem da companhia deles, os insultarem e tratarem com desprezo o nome de vocês, considerando‑o maligno por causa do Filho do homem”.

Lc 6:20-23

A banalização do mal está em conformidade com o processo de cotidianização da vida, sendo é nesse estágio em que a maldade se torna aceitável, praticável e corriqueira, mesmo que seus algozes nunca precisem engatilhar um revólver, ou empunhar uma faca, ou cometer qualquer ato considerável atroz. Assim é visto como normal enjaular um ser humano em condições irracionais como acontece com o regime de RDD, no qual os apenados são colocados em celas individuais minúsculas, onde permanecem incomunicáveis durante 22 horas diárias com direito a duas horas de banho de sol, que nem sempre é assegurado, com alimentação de má qualidade e insuficiente, com visitas sem contato físico e monitorada, gravada e filmada, inclusive com os advogados, negado o direito de afeto com a cônjuge, filhos e netos.

Desse modo a pena ultrapassa a pessoa do condenado atingindo toda sua família, que precisa viajar mais e mil quilômetros, quando tem recursos, para visitar seu ente querido.

Uma comunicação social que se alimenta do mal espalhando as piores noticias sobre a humanidade, não educa, nem produz qualquer mudança positiva. Recentemente o filho de um apenado nessas condições, de 23 anos quando o pai já se encontra preso a 29 anos, por ser um artista negro de periferia de sucesso tem sofrido stalking acusado de fazer apologia do crime, quando o que compõe e canta nada mais é que sua realidade de vida. É mais fácil cantar a dor que o amor que não recebe.

Até mesmo leis persecutórias, de caráter pessoal, têm sido propostas por parlamentares quando se sabe que as normas devem ser abertas e gerais, bem ao estilo neonazista de atacar a cultura, queimar livros, quadros e censurar livros e músicas. Mauro poderia ter herdado práticas criminosas, mas optou pela arte e pelo conhecimento. Estudou psicologia na Universidade Estácio de Sá e dedicou-se ao ritmo popular de seu povo. Sua família é um exemplo de união e amor, chefiada pela matriarca Dona Maria, amada por seus filhos e netos, dedica-se ao serviço religioso e é autora de um livro cujo título é “A Transformação de Maria – Jesus me Tirou das Trevas para a Luz”, que a conduziu a ocupar a Cadeira nº 12 – Lélia Gonzalez da Academia Brasileira de Letras do Cárcere.

Dona Maria e os filhos e filhas. (Divulgação)

Mauro tem ainda cinco irmãos, sendo uma delas, Debora Gama uma cantora gospel de sucesso no mundo religioso. Ela tem 26 anos, canta desde os seis, lançou três discos e algumas das músicas foram escritas pelo pai. Ela também é arquiteta e participa do Ministério de Louvor da Igreja ADB, de Jacarepaguá. Essa Igreja realiza um trabalho admirável de acolhimento dos egressos do sistema penitenciário, onde são vestidos e alimentados, documentados e colocados no mercado de trabalho para viverem uma nova vida fora da criminalidade.

Parlamentares que deviam se preocupar com a falta de políticas públicas nas favelas, optam por práticas autoritárias de censura e combate à cultura das periferias, como fizeram as elites que criminalizaram e perseguiram os símbolos religiosos e culturais dos povos africano que vieram construir o Brasil. Parem de queimar livros, bruxas e tentar destruir a cultura da periferia.

Bombei aquela música do Invejoso
Hoje ela quer me dar só porque o Oruam é famoso
Só dois papin de Augustin
Arrasto ela po cantin
Sou relíquia do Marcin
Brabão de alemãozin, brecha pra mim

Cê me faz tão bem
E que por mais que eu rode o mundo
Onde eu vou, sinto seu cheiro
Desce e sobe pa dancinha do Tiktok
Rebola po meno de Glock

SIRO DARLAN – Advogado e Jornalista; Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Ex-juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), aposentado compulsoriamente por conceder benefício a preso em risco de vida, que uma vez preso faleceu nas grades da crueldade estatal; Especialista em Direito Penal Contemporâneo e Sistema Penitenciário pela ENFAM – Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados; Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos na ENSP; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo; Membro da Comissão da Verdade sobre a Escravidão da OAB-RJ; Membro da Comissão de Criminologia do IAB. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.