Meu querido Rafael.

19 de agosto 2022

Está fazendo um ano que você passou para outra parte da vida. Tenho certeza de que você continua presente em nossas vidas porque sinto sua presença toda vez que dirijo meu pensamento a valores humanos como solidariedade, família, saúde, música e alegria. Como disse Santo Agostinho você continua em nossas vidas, apenas em outro plano. Mas quero que saibas que sinto muito a falta de sua presença física a me chamar de “nego veio”, mandar muitas músicas para alegrar minha vida a dos que me cercam.

“Nego veio” é um tratamento muito carinhoso que me enchia de orgulho de ter em minhas artérias correndo o sangue martirizado e valente dos irmãos africanos. Todos nós temos um pezinho na África que tanto maltratamos com nosso preconceito e desprezo. Fico pensando como é grande a alegria de ter te descoberto como irmão de sangue e constatar quantas afinidades alimentamos mesmo tendo sido criados tão distantes.

Aqui em nosso velho planeta, os homens continuam se alimentando do ódio que não nos une. É constrangedor vermos irmãos humanos tratando o próximo como se nunca tivessem ouvido a lição dos Evangelhos. Ele veio para os que eram seus e os seus não O receberam. A humanidade está caminhando, sobretudo nesses tempos pré-eleitorais para uma divisão muito perigosa. Receio que em breve sejamos um povo dividido e temos que orar para que isso não aconteça.

Desejo que saiba que você, mesmo tendo sido um meteoro em minha existência, tem uma importância muito grande por suas lições de generosidade a amorosidade mesma nas divergências. Tenho a convicção que você continua cuidando de todos nós e peço que interceda junto ao Pai para que nossos irmãos consigam vencer o luto e se ergam para continuar a tua obra de união familiar, que ficou perigosamente ameaçada com a sua ausência física.

Estou indo essa semana à Brasilia para defender minha tese de especialização em Direito Penal Contemporâneo e Sistema Penitenciário. Vou encontrar com uns primos que amo muito e que há muito tempo não vejo. Será uma boa oportunidade para um reencontro. Meu tema foi “O racismo estrutural como causa do superencarceramento”. Espero ser bem acolhido e entendido. Tenho muita preocupação com o descaso com que tratamos nossos irmãos pretos, que sofrem até hoje as marcas da escravidão, negando-lhe direitos e oportunidades iguais. Um beijo no seu coração.