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Entre filhos e filhos. O que Leo Aversa não escreveu – por Siro Darlan Siro Darlan
MAZOLA, 14 horas ago 4 min read
Por Siro Darlan –
Leo Aversa é um jornalista sensível e que mostra um talento invejável para as crônicas que escreve sobre seu amor pela fotografia, pela natureza e por sua família. Em suas crônicas estão sempre presente o amor que destina a seu pai e a seu filho de forma bastante generosa.

Feliz aquele que tem o pai e o filho presentes de forma inspiradora em seu trabalho e no seu dia a dia. Contudo falta-lhe empatia para olhar para aqueles que não têm os mesmos valores familiares e aos quais o cronista dedica sua aversão e expande o ódio estrutural que perpassa por grande parte da população alimentada por uma mídia que cultua o preconceito racial e social.
Recordo que ele afirmou que seu filho estuda música, mas não está gostando, é preciso habilidade para entender os diferentes. Ele pediu a ajuda de Lulu Santos para dar um empurrãozinho ao filho na direção da música (um luxo para poucos privilegiados). Lulu chamou a atenção ‘de que Martin era de outra geração e ia acabar encontrando o caminho musical dele”. Leo não entendeu o recado e escreveu a crônica chamando o rapper preto e favelado de “Oruam e a miséria moral”. Tem que refletir sobre a resposta do Lulu. Não é porque somos de outra geração que o novo será sempre uma miséria. É preciso ter empatia e respeito aos outros, sobretudo por aquele que escreve e influencia a opinião pública.

Oruam (foto acima) não tem o privilégio de ser filho de Leo para passear no Parque Lage, fotografar a natureza, fazer lanches no Jardim Botânico e não conhecer a miséria do preconceito. Oruam faz poesia e canta sobre sua realidade. Oruam não tem um pai presente e mesmo assim é um filho amoroso e respeitoso com o pai e faz músicas e poesia para seu pai, ausente de sua vida há 29 anos, Oruam tem apenas 23 anos e já é um sucesso de público com 20 milhões de seguidores faz inveja a muita gente que deseja lhe derrubar por não reconhecer o talento de um jovem negro da periferia que canta a dor e o sofrimento de seu povo.
Muito heróis já foram demonizados. Tiradentes, nosso herói maior foi esquartejado chamado de bandido, Luis Carlos Prestes, perseguido porque acreditava na comunhão de bens e direitos, Antônio Conselheiro, perseguido e dizimado com seu povo porque queria uma sociedade mais justa, Mariguela assassinado pela ditadura porque sonhou por uma sociedade mais igualitária, Dom Helder Câmara perseguido porque quando dava comida aos pobres era tido como sando, e quando perguntava porque eles eram pobres, chamavam de comunista.

Leo Aversa, um pai e filho amoroso, não consegue entender o que é um filho de pai vivo, que foi condenado, cumpriu sua pena, extrapola o tempo na prisão, tornou-se um escritor, Acadêmico da Cadeira nº 1 Graciliano Ramos, da Academia Brasileira de Letras do Cárcere, por ter escrito 6 livros e lido mais de 500 livros.
Leo, assim como a natureza, o ser humano se transforma e evolui. Lia os livros de Marcio Santos Nepomuceno e você entenderá porque o filho dele tem tanto orgulho do pai. Nem tudo que você entende por civilização é de fato civilizatório, assim como você não é capaz de entender porque seu filho não gosta de música, também não entendeu a poesia e a música de Oruam.
Barbárie é o preconceito racial e social.



SIRO DARLAN – Advogado e Jornalista; Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Ex-juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro; Especialista em Direito Penal Contemporâneo e Sistema Penitenciário pela ENFAM – Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados; Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos na ENSP; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo; Membro da Comissão da Verdade sobre a Escravidão da OAB-RJ; Membro da Comissão de Criminologia do IAB. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
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