No tempo da maldade, acho que a gente nem tinha nascido – por Siro Darlan
MAZOLA, 58 minutos ago 0 3 min read
Por Siro Darlan –
Fui assistir a homenagem aos 80 anos do grande escritor, compositor e cantor Chico Buarque de Holanda. Foi um dia muito especial porque pela manhã na Filosofia na Praia o homenageado fora Vinicius de Morais numa palestra magistral de Ricardo Cravo Albin na Praia do Leme, com a presença honrosa da família do grande poeta e diplomata. Não pude deixar de me emocionar ao ouvir o Coral cantando as músicas de Chico num cenário tão importante para a história do Brasil, onde funcionou o Supremo Tribunal Federal até 21 de abril de 1960, quando mudou para Brasília.
Diante de tanta poesia e músicas maravilhosas na veia, a lembrança da riqueza que comportou a cultura dos anos 60 até 2000 era de fato, apesar de você, essa ditadura militar castradora, um tempo de cultivo das artes, esportes e o Brasil era um canteiro de criatividade intensa com todos os ingredientes para dali surgir uma sociedade igualitária e feliz. Possuíamos a trilha musical, os poetas e cantadores de todos os cantos do país, os artistas nos teatros, nas novelas, no cinema, na produção, na direção os melhores profissionais reconhecidos no resto do mundo. Tudo era felicidade. A gente era obrigado ser feliz. Nessa época eu era bedel no Colégio Santo Agostinho, mas em 1982 era também juiz.
A felicidade não podia ter escapado, porque no tempo da maldade acho que a gente nem era nascido. Mas a maldade chegou depois! Com a violência da ditadura que açoitou a democracia! Exilou nossos líderes! Prendeu e matou nossos sonhos! Calou nossa juventude! Aquela juventude sonhadora que tomava as ruas pedindo igualdade, respeito as diferenças, produzindo uma fábrica de sonhos e utopias foi esmagada pelo poder capitalista e desde então nem mesmo com a volta das antigas lideranças pudemos viver da mesma forma, com os mesmos ideais. Fomos castrados, pisoteados, controlados pelos dominadores de mentes e pensamentos.
Vivemos pandemias, golpes, impeachments, e importamos instrumentos de tortura como o law fare e outras formas de perseguição e controle das ideais e do pensamento. Viramos robôs controlados pelos aplicativos criados para nos calar definitivamente. Ingressamos nas cavernas das redes sociais alimentadas pelo ódio e o preconceito. Somos vigiados e viciados no consumismo. Viramos números precificados como se todo sentimento tivesse um valor monetário.
Porém quando temos o privilégio de encontrar nossos valores poéticos e musicais percebemos o quanto éramos felizes. Cada vez que se ouve Vinícius, Tom, Gil, Caetano, Chico, Betânia, Gal, Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Elba e Zé Ramalho, Alceu, Alcione, Chico Cesar, Roberto Carlos, Elis Regina, Tim Maia, Cazuza, Raul Seixas, Marina Monte, e tantos outros nos redescobrimos como o povo brasileiro rico em cultura e valores, que necessita ser reciclado na sua autoestima e reviver na época da bondade, construída pelo amor e respeito ao próximo e à natureza, em uma sociedade igualitária e amorosa.
SIRO DARLAN – Advogado e Jornalista; Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Ex-juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Especialista em Direito Penal Contemporâneo e Sistema Penitenciário pela ENFAM – Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados; Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos na ENSP; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo; Membro da Comissão da Verdade sobre a Escravidão da OAB-RJ; Membro da Comissão de Criminologia do IAB. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
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