Joaquim Barbosa e Mandela.
Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Membro da Associação Juízes para a democracia.

A humanidade perdeu uma referência moral, política e ética. Após passar 27 anos preso por um regime político injusto e odioso, Mandela saiu de seu isolamento forçado para unir sua Pátria abolindo o apartheid sem qualquer rastro de ódio. A Pátria brasileira, a maior nação com população negra fora da África homenageou o grande líder com uma comitiva de quatro ex-presidentes e a própria presidenta Dilma.
A diplomacia brasileira não foi feliz ao excluir a maior autoridade negra brasileira dessa delegação, o Ministro Joaquim Barbosa. E não foi feliz, sobretudo pelas causas dessa exclusão, que ao contrário de Mandela, foi colocar acima da nobreza que deve ser a marca da diplomacia a odiosa e injusta vingança. Além de mais alta autoridade negra de um país de maioria negra, Joaquim Barbosa honrou a toga presidindo o maior e mais importante julgamento político da história do Brasil.
Como dizia o ex-presidente Lula, nunca antes nesse país tantos políticos foram julgados e condenados por um Tribunal na mais alta expressão de uma república democrática. Não entro no mérito do resultado desse julgamento histórico, porque aqui não cabe. E, certamente seu resultado, como todo julgamento deve ter contrariado interesses e pessoas, sobretudo os condenados, seus familiares, amigos e parceiros de empreitada política.
Nós, os juízes, escolhemos uma profissão nobre e difícil de julgar nossos semelhantes com toda nossa fabilidade. Portanto o único patamar que nunca atingiremos será a perfeição de nossas decisões, mas nossa obrigação não é essa e sim fazer o melhor que pudermos. A perfeição somente a Deus pertence.
É humano aceitar que a Presidenta Dilma e seu Guia e mentor Lula não tenham gostado do resultado do julgamento presidido por Joaquim Barbosa, mas excluí-lo da homenagem ao maior ídolo negro na história moderna foi um erro político muito grave. Afinal Mandela, o homenageado, viveu e morreu, sem se deixar abater pelas perseguições e punições injustas que sofreu, convivendo respeitosamente com seus julgadores e carcereiros, sempre com espírito de bondade, lucidez para unir o seu povo e não se deixar levar pelo espírito belicoso de alguns parceiros.
Mandela sempre demonstrou absoluto apego ao que era legítimo e nunca transigiu com a legalidade, nem com seus companheiros mais próximos. Por isso mesmo atraiu com seu exemplo a simpatia de todos os que o escutamos falar, quem apertou sua mão e aprendeu com seu exemplo de vida. Excluir o Ministro Joaquim Barbosa foi uma contradição aos ensinamentos do ilustre homenageado. Que viva Mandela!