O Filho perdido – por Siro Darlan

COLUNISTASO Filho perdido – por Siro Darlan  MAZOLA14 horas ago 0  3 min read  22786

Por Siro Darlan –

A Sagrada Escritura conta a parábola do Filho Pródigo, que pediu sua antecipação de herança e apartou-se do convívio de seu pai e sua família. Já é uma bela reflexão para se constatar que ninguém é obrigado a exercitar o afeto, que é um sentimento voluntário do ser humano. Outro dia vi um filme cujo título era A filha perdida, onde se discutia a maternidade, seu prazer e desprazeres, o quanto representa um peso para as mulheres que concebem, gestam e pari um outro ser humano e fica indelevelmente ligado a ele ou ela.

Mas foi a poesia de Thich Nhat Hanh que me fez refletir mais profundamente o que representa a paternidade e a maternidade, senão apenas uma função biológica de dar seguimento à espécie. A partir do momento que você concebe uma outra criatura, única e completamente diferente de seus pais, você perde toda forma de ter e poder para que essa nova pessoa possa ser o que ela bem entender. Assim como nos ensina João Capelo Gaivota, você só precisa ensinar a voar, ou andar, porque o resto ela será autodidata. Você nunca a doutrinará.

Todos nascemos com autonomia para seguir nosso caminho do jeito que quisermos, portanto o processo educacional é apenas um detalhe, diferente do processo do autoconhecimento que dependerá de nossas escolhas livres e suas consequências. Como pais estaremos sempre de braços abertos como o Pai do Filho Pródigo, mas a aprendizagem será feita com o “suor de seu corpo”.

O importante está nessa soberba filosofia que fala de viver no Amor, portanto morrer sem ódio, muito oportuna para nossos dias:

Morrer sem ódio – Um poema do grande mestre Thich Nhat Hanh

“Prometa,
prometa neste dia,
prometa hoje,
enquanto o sol paira
bem no zênite,
prometa:
Mesmo que eles
te derrubem com uma montanha de ódio e violência;
mesmo que eles te pisoteiem e estripem,
lembre-se, irmão,
lembre-se:
o homem não é nosso inimigo.
A única coisa adequada a ti é compaixão –
invencível, ilimitada, incondicional.
O ódio jamais permitirá que você encare
a besta no homem.
Um dia, quando você encarar sozinho essa besta,
com sua coragem intacta, seus olhos bondosos,
imperturbáveis
(mesmo que ninguém os veja),
de seu sorriso
irá desabrochar uma flor.
E aqueles que o amam
vão te enxergar
por dez mil mundos de nascimento e morte.
Sozinho de novo,
seguirei determinado,
sabendo que o amor se tornou eterno.
Na estrada longa e dura,
o sol e a lua
continuarão a brilhar.”

Thich Nhat Hanh
“Recommendation” (poema de 1965)

SIRO DARLAN – Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos na ENSP; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.