Maria, uma Princesa a serviço dos pobres – por Siro Darlan

Foto: PixabayCOLUNISTASDIREITOS HUMANOSPOLÍTICAMaria, uma Princesa a serviço dos pobres – por Siro Darlan  MAZOLA6 horas ago 0  4 min read  22852

Por Siro Darlan –

Maria Bourgeois, essa mulher linda e potente está morrendo de tristeza e frustração.

Ela foi a primeira modelo brasileira a desfilar nos palcos dos grandes costureiros franceses e abrir caminho para as beldades que vieram depois. Ele foi a predileta de Pierre Cardin até conhecer e casar com o suíço Eric Bourgeois, foi morar na Suíça com quem teve três filhos.

Maria Bourgeois, ex-modelo, predileta de Pierre Cardin. (Divulgação)

Encantada com o social, foi ela quem salvou da morte um dos mais procurados sobreviventes da Chacina da Candelária, abrigando-o até hoje na Suíça e cuidando de sua vida. Em Genebra conheceu os ativistas do Médicins du Monde e fez trabalhos voluntários em Boa Vista e com os Yanomâmis. Trabalhou como voluntária no Comitê Internacional pela Vida. Ganhou um concurso de poesia e uma bolsa para estudar teatro em Paris, onde passou a conviver com exilados políticos e a tomar contato com os grave problemas sociais brasileiros. Ao final da bolsa de estudos foi descoberta por Pierre Cardin, fez fotos de moda e tornou-se a modelo predileta da Maison Pierre Cardin.

Com a morte do marido mudou-se para o Brasil, onde intensificou seu trabalho voluntário e criou o Comitê Pela Vida como resposta à violência perpetrada contra a população de Vigário Geral, em agosto de 1993. Conseguiu recursos com a Prefeitura de Genebra e banqueiros suíços, e construiu a Creche Coração de Genebra no centro de Vigário Geral, na presença dos Prefeitos de Genebra e do Rio de Janeiro. Através do Comitê Pela Vida (foto abaixo) realizou centenas de cursos gratuitos profissionalizando milhares de jovens alunos para o mercado de trabalho, contribuindo com o resgate da autoestima e promovendo a cidadania em comunidades de baixa renda.

Encaminhei centenas de jovens que saiam do Juizado da Infância e da Juventude como pessoas em conflito com a lei e saiam dos cursos de Maria com formação escolar e profissional, muitos já contratados por horteis e restaurantes. Utilizando a metodologia da Escola Hoteleira de Lausanne muitos profissionais do turismo saíram dos bancos escolares de Maria Bourgeois. O Comitê Pela Vida oferecia essa oportunidade de educação e trabalho em espaço da Escola Municipal Calouste Gulbenkian, no centro do Rio de Janeiro. Aproveitando-se da obrigatória paralisação das atividades durante a pandemia, a Prefeitura do Rio, manu militari, trocou as chaves do local onde os cursos se realizavam e desejou o Comitê Pela Viva, que assim teve enterrados seus sonhos de mudar essa cruel realidade de desigualdades sociais.

Essa tentativa de tomada dos espaço já havia sido tentada em obra administração municipal, mas uma ordem judicial restabeleceu a permanência da Escola para pobres no Calouste Goubenkian. Porém, dessa vez esse ato de covardia pegou nossa heroína fragilizada por um câncer avançado e devastador que a coloca sem forças para continuar realizando seu sonho quixotesco. Tenta falar com o Prefeito, que foi eleito pelo povo, mas esse não lhe é acessível, tenta buscar o socorro do Governador, mas esse também não lhe houve.

Com sua saúde fragilizada, arrastou-se para a porta do Teatro Municipal em busca do pai dos Pobres, mas sequer lhe deixaram chegar perto. Descansa Maria. Vai cuidar de sua saúde, mas tudo faremos para eternizar sua obra e dedicação cidadã.

SIRO DARLAN – Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Especialista em Direito Penal Contemporâneo e Sistema Penitenciário pela ENFAM – Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados; Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos na ENSP; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo; Membro da Comissão da Verdade sobre a Escravidão da OAB-RJ; Membro da Comissão de Criminologia do IAB. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.

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