QUERO SER PRESO.

Parece uma loucura, mas não é. No andar da carruagem, fiquei pensando e inspirado no Professor Darci Ribeiro, verifiquei que toda vez que quiz cumprir a lei, me dei mal. Quando ainda em Silva Jardim, convoquei os posseiros para combinar uma estratégia de desocupação do imóvel para cumprir uma determinação de reintegração de posse para a Fazendeira Ana Costa, sofri minha primeira representação, aquela que a gente nunca esquece. Depois, quando no auxílio na Vara de Execuções Penais, concedi o benefício de fim de ano a um apenado, codinominado pelo Tribunal Midiático “o maior ladrão de carros do Brasil”, e todos diziam que ele não voltaria e foi o primeiro a se apresentar, fui punido pelo Presidente do Tribunal com minha transferência para o Fórum de Santa Cruz, quando apliquei a um adolescente que usava maconha a medida sócio educativa de matrícula na rede escolar, a desembargadora Áurea Pimentel pediu minha remoção compulsória dizendo que eu era “muito bonzinho” com os infratores. Quando apliquei as medidas alternativas à prisão, que é segundo a lei a “última ratio”, fui acusado de receber dinheiro e estou respondendo a uma ação penal por “vender sentenças”.

Ou entro no “sistema” e deixo de aplicar a lei, ou continuo fiel ao meu juramente e continuo cumprindo fielmente as leis e a Constituição do Brasil. Como não quero entrar nesse “sistema” parece que depois de afastado de minhas funções, preso pois apreendido meu passaporte, sem dinheiro pois sequestraram meus bens e aplicações financeiras, sem liberdade de comunicação pois proibiram que eu me fale com meus assessores e com qualquer pessoa do Tribunal. Só falta o decreto de prisão que seria o coroamento que preciso para minha carreira depois de 58 representações administrativas, sendo duas de remoção compulsória. Além desse ministro relator já ter sugerido isso como solução para que eu não tivesse sido processado a remoção para uma Câmara Cível.

Ora, nesse caso, a prisão seria a coroa de louros que me falta para atingir o Panteão dos presos injustamente na história como o Presidente Lula que ficou preso quase dois anos; Tiradentes, 3 anos, Mandela 27 anos, Ghandi, 6 anos, Neru, na Índia, 9 anos, Fidel Castro, 2 anos, Lenin, 2 anos, e mais Antonio Conselheiro, Zumbi dos Palmares, MALCON X, Miguel Arraes, Leonel Brizola. Todos esses foram presos e humilhados, sofreram perseguições e injustiças por que defenderam grandes causas. Hoje, na pós democracia, as penas têm sido de humilhação, exposição pública midiática de mentiras plantadas através de delações falsas e produzidas para assassinar reputações, desmoralizar aqueles que se atrevem a ser independentes, coerentes em defesa da liberdade, sobretudo se colocar-se ao lado dos oprimidos e humildes. Assim como fizeram com o Presidente Lula, igualmente nordestino, como eu sou, e que ousou quebrar a regra do poder partilhado pelas elites e governar para o povo humilde, e acabou sendo vítima do poder econômico que tudo compra, inclusive a consciência dos filhos de Têmis. 

Contaram meus advogados que o sinistro ministro dissera que se houvesse me removido para uma Câmara Cível não estaria respondendo esse processo. Ora, essas pessoas olham para o espelho e pensam que todos são iguais a eles que são capazes de beijar os pés de uma primeira dama, que está presa, para obter promoção. Em fevereiro de 1985, quando propuseram a Nelson Mandela, depois de mais de 20 anos preso, uma libertação da prisão, desde que ele abdicasse de seu projeto político, Mandela com serenidade disse que já tinha chegado até ali e que não iria abandonar o compromisso com o povo dele e com o Congresso Nacional Africano. Ficou preso por mais cinco anos, mas não perdeu a dignidade, e saiu da cadeia para ser o Presidente eleito da África do Sul e acabou com o apartheid racial. Essa página infeliz de nossa história passará, assim como passarão o ódio, o revanchismo e a raiva, e um dia descobriremos a quem serve esse ministro para assim agir.

Existem alguns momentos em nossas vidas que é inevitável não se sentir cansado ou se sentir fraco. Me sinto descrente, limitado e humilhado, tenho um sentimento de tristeza, quando vejo que manhã após manhã as coisas continuam do mesmo jeito, e, apesar de todo esforço de meus advogados a noticia boa não vem, aquele momento de justiça não chega, aquela graça não aconteceu. Mais um dia se passou e você pensou: Meu Deus cadê você? Eu estou precisando tanto de você. Nesse dias meu coração e meu corpo sentem um certo fracasso e pensam e desistir. Já cheguei a pensar que devo ser um grande criminosos. Devo ter praticado um crime terrível para merecer esse momento. Então penso que não só eu estou passando por isso. Muitos estão passando por injustiça e humilhações muito maiores. As prisões estão cheias deles e delas. Então cresce minha resignação e resiliência em continuar resistindo e acreditando que Deus não faltará no momento certo. Não desisto pois acredito em Deus e não no Salomão que não faz justiça mas corta a justiça em dois pedaços.

Embora essa inveja de equiparar-me aos bons citados acima, sinto que não tenho méritos para ocupar essa galeria de heróis. Devo me contentar com as aflições que já estou passando. A prisão é para os eleitos, que nunca serão esquecidos pelo grau de injustiça que passaram, proporcional ao funeral histórico daqueles que os humilharam e perseguiram, sobretudo os alpinistas que gostam de pisar em outros seres humanos para atingirem seus objetivos pessoais egoístas, como alcançar títulos e cargos nos tribunais superiores a qualquer preço.